terça-feira, 26 de novembro de 2013

Como tocar numa mídia?

Receio que essa seja uma das questões mais difíceis. Cuidado com as metáforas. Devido ao tempo, livros, papeis, moedas e cavaletes serão aqui considerados insuficientes, pois a relação mídia-objeto é complicada, toca-se num objeto, não na sua mídia. Como é a sensação de um número? Portanto, mídia digital. Para se tocar numa mídia basta conseguir tocar num corpo marcado pela mídia. O supracitado ‘basta’ possui o mesmo grau de complexidade das frases ‘os iPhones retribuem a força despendidas pelo olhar’, ‘memória contemplativa convertida em marketing’, ‘o holograma colorido dá ao cartão de crédito uma intriga mercadológica’. Os corpos escolhidos pela mídia são facilmente reconhecíveis por um brilho que consiste em uma aura acinzelada da cor de um iPad quando inicializando, ou da cor do retângulo prateado semilíquido da touchscreen seccionada no telão do comício de lançamento da Apple. O brilho induz o observador a um estado de semi-paranóia, pois apesar de ser claro e brilhante e tridimensional, ele é invisível à olho nu, e floresce apenas bem acima do ponto onde se encontrariam olhos femininos, cílios confirmando o vento, que tentam enxergar-se mutuamente. Quando de fato consegue-se tocar no corpo marcado pela mídia, ocorre a sensação de se tocar na mídia. Mas o que é uma mídia? Uma superfície de realidade discutível e apenas passível de ser apreendida em termos de recepção simbólica, como ilustra Justin Bieber. Atentem para o rosto da menina que assiste. Vejam como Bieber brilha. Um império, um corpo, uma história desaparecem em pura paisagem midiática. A informação se esconde ao conceitualmente desaparecer no seu movimento natural – ser (tragicamente) processada, e o conceito de mídia infelizmente nos refere de volta à seu subproduto, o estigma, a marca da mídia. Então, apenas para entender a materialidade da mídia, vejam o decotes, vejam os olhos sombreados. Acabam de deixar o livro e agora invadem o perímetro do seu foco. Exclua os bancos, as pessoas, as barras de ferro, o trem. Veja, mas veja apenas a informação. Evitem processar em conjunto o decote e os olhos e o sorriso contrabandeado através do livro. Cuidado com: calça jeans,  cabelos bagunçados,  all-star surrado, capa do livro, o local fisiológico referido pela franja grudada na testa por causa do calor. Tratem os olhos que se levantam e o trem que balança o corpo como relações. A única sensação correta é à partir da metáfora industrial da máquina emperrada.  Cuidado com o output semântico. Evitem símiles. Não confunda as coisas: o metrô os distribuindo como informações por diversas ‘estações’ ao longo de um canal é apenas uma questão de ponto-de-vista, a função lógica de um secretário de transportes com um mapa. Deixe a informação flutuando exatamente um cubo de quatro dimensões. Sinta o brilho. Quem é Justin Bieber agora.