domingo, 15 de março de 2015
quinze de março de dois mil e quinze
Tanta gente sabe tanto.
Por exemplo, a PM,
segundo o repórter da Globo News,
ela sabe por meio de
ferramenta tecnológica de mapeamento geo-referencial,
ênfase em tecnológica,
a partir de imagens aéreas
que foram um milhão de pessoas!
enquanto a datafolha contou duzentos mil
por método próprio
sem ênfase
(com uma caída de ritmo
que foi inserida meio de zoeira meio a sério na narratologia
com o nome de Bathos
que é quando cai do exaltado ao banal
e a coisa termina assim
meio xoxa).
É que, continua a Globo,
a folha não contou as adjacências da Paulista.
É tão angustiante imaginar um espectador da Globo News
acreditando que no Bathos do repórter
se esconde um fato explicativo,
ou imaginar o mesmo espectador concordando gravemente
com a gravidade tranquilizante do tecnológico,
quanto é olhar a foto das moças vestindo camisa de
Presidenta queremos nossa bolsa
com foto de uma bolsa
presumivelmente muito,
muito cara,
e pensar que é muito fácil,
que é a coisa mais fácil do mundo
zoar a foto, que é uma piada pronta,
e muito difícil
ver a seriedade da foto, que é só meio de zoeira;
ver – só ver – o esquerdismo da zoeira;
ver que o diálogo é impossível
porque a bolsa tem uma importância absurda,
que a gente só conhece de imaginar.
E se você pega um cara exaltado,
indignado com o absurdo,
que vai usar os argumentos marxistas necessários,
por algum desígnio do qual eu não me orgulho
eu as vejo dizendo
“Eu não reconheço o marxismo
da mesma forma que você não reconhece a bolsa”,
ou pelo menos quase da mesma forma,
“como visões de pertinência política.”
É bizarro,
é muito bizarro,
apesar de gente de humanas na internet –
que é meio de zoeira meio séria –,
como ninguém vê que o problema
talvez o grande problema
seja o de duas esferas que não se comunicam,
e que talvez dê pra aprender com os engenheiros que a gente de humanas zoava,
já que alguém precisa construir pontes.
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