eu pergunto ––
deixa eu perguntar, por favor
O que você pensa? ––
O que pensa sobre –– sobre isso aqui?
Sobre fotos e vozes e vida
saída assim do nosso corpo remoto, mas —
Melhor não.
Isso deveria nos aproximar ou pelo menos
deveria ser não de um para o outro mas de um com o outro.
Já tu, se perguntasse, eu diria que
eu penso bastante mas ––
como posso falar?
Se ao menos você pudesse falar.
Pra mim é simples.
Não é que eu queira isso ou aquilo especificamente embora sim.
Ou porque estou aqui
E não lá fora ou mesmo aí
É só que a minha vida
agora é toda feita aqui
E tu tão remota
parece também menos lá ou aí do que aqui.
Mas tudo que tu me manda de ti
de ti se retrai e vira em mim
ecos que repetem distâncias
em vozes que só falam aqui.
E no entanto sei que isso com que converso ––
sei que tu
és uma janela para lá
para ti, para esse tu
para a segunda pessoa do singular
uma segunda pessoa singular, não eu e não outra
nem tua voz ou tua foto
mas tu
Enquanto isso ––
tu tens que mudar de vida – não aqui mas lá ––
é o eco
Lá, eu disse ao médico:
Doutor, engoli uma pedra de ar
A chaleira que apita explodiria se eu deixasse?
Mas não é só ar?
Doutor, deixa eu te perguntar ––
Muito lindo. Muito complexo. Vou ter que ler de novo.
ResponderExcluirComecei a ler e pensei, estou entendendo, daí quando cheguei no trecho da pergunta para o Doutor me perdi.
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