sábado, 3 de setembro de 2016

Essa lanchonete costumava ser barata

e escura como uma caverna
agora reformada, pronta para os turistas
móveis vermelhos e azuis
sob constelações de luzes
conseguiram apagar
todas as manchas


no cardápio o sanduíche mais barato
superfaturado
não deixa sombra de dúvida
tudo ao meu redor desmorona
lentamente


a varandinha cria uma falsa
perspectiva da rua à noite
em duas dimensões
uma pintura noturna onde homens
bem vestidos parecem ir de encontro
aos mendigos emergidos
com a chegada dos turistas


uma mãe negra enterrada em cobertores
grita com um bebê de colo
um turista deixa uma nota
carregando caixas de chicletes
entram as filhas


que sol nenhum
poderia apagar


alcanço minha carteira
onde não há dinheiro algum
a menina diante de mim
magra e desconfortável
no corpo espichado do dia para a noite
espera me olhando

envergonhada e digna

ela não quer dinheiro
só um doce
que mando incluir na conta


me ponho a fazer cálculos
e quando ela reaparece
e diz, tremendo de tímida,

a boca cheia de doce
obrigada, moço
chego ao valor exato
do desespero

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